Matéria vinculada a Revista Pássaros
A revista da Ornitologia Portuguesa
Ano I nº 1 Outubro-Novembro-Dezembro 2010
Página 22
GLOSTER IDEAL
Antonio de Pádua Báfero. UCCC 017. Revista UCCC 2004. Arquivo Editado em 20/09/2004 Só para quem sabe ver. Muito se tem dito sobre a arte de escolher um canário para a reprodução. Criadores, experientes ou não, falam de campeões que quase nada transmitem de qualidades aos seus descendentes; falam também, de canários com baixa pontuação em concurso, mas por serem portadores de boa linhagem, são bons "raçadores", isto é, transmitem aos seus descendentes características desejáveis da raça. Muitos criadores compreendem o alto grau de segurança ao adquirir um canário para reprodução, oriundo de um Criatório com bons exemplares. Quando me propus a escrever sobre a escolha de um canário de porte para a reprodução, mais especificamente, o Gloster, não o fiz com a pretensão de produzir um tratado científico discutindo possibilidades genéticas. Saberes científicos são complexos, estão nos livros e todos os criadores, com mais ou menos experiência na canaricultura, tem obrigação de saber sobre eles. Escrevo com a intenção de refletir sobre o ato subjetivo de ver o canário. Por que o Gloster? Escrevo sobre o canário Gloster porque fui cativado por sua graciosidade e pela harmonia dos seus movimentos. Isso não se explica, faz parte da imensidão da alma humana. Todas as raças de canários têm seus admiradores. Foi dito que o canário Gloster, como todos os canários de porte, é uma escultura, uma obra de arte. O Manual de Julgamento de Canários de Porte, publicado pela Ordem Brasileira de Juizes de' Ornitologia, Edição 97 diz o seguinte: "Na canaricultura, o segmento dos canários de porte pode ser comparado à escultura. Os criadores procuram através de cruzamentos judiciosos produzir pássaros que se assemelhem, ao máximo, na forma, posição e plumagem a um modelo preestabelecido denominado padrão da raça". Ora, se é uma escultura, resta ao criador aprender a olhar e ver com sensibilidade e conhecimento. O desenvolvimento dos sentidos para compreender e conhecer um canário Gloster ideal necessita de aprendizado. Numa primeira olhada um canário Gloster é "apenas um Gloster" de boa ou má qualidade. Já numa segunda vista, dependendo dos conhecimentos de cada criador, surgem os detalhes, que serão avaliados como características da raça. Ninguém se transforma num bom conhecedor de Gloster de um dia para o outro, mesmo os mais instruídos necessitam do tempo. O tempo acomoda os saberes e forma na memória um padrão ideal da raça. Para aprender é preciso exercitar visitando exposições, criadores e dialogar com juizes especialistas na raça Gloster. Faz parte das pessoas comparar a imagem de um lugar ou de um objeto ou de um animal, com imagens ou impressões guardadas na memória. Quando um criador se propõe a adquirir um canário Gloster, o julgamento que ele faz "a priori”, é comparar o canário que está vendo com o canário existente na sua memória. Pode-se chamar isso de uma avaliação perceptiva, consciente e técnica. Pode ocorrer, muitas vezes, que a imagem do canário guardada na memória está aquém da imagem do Gloster ideal. Quando isso acontece, o criador, sem se aperceber, adquiri um canário com as mesmas virtudes e os mesmos defeitos os seus, isto é: com o mesmo formato da cabeça, topete, cílios, plumagem, postura, cauda, pernas e patas, forma e tamanho. A dificuldade para avaliar um canário Gloster é perceber a harmonia entre os diversos segmentos do seu corpo. Harmonia quer dizer disposição bem ordenada entre as partes de um todo; quer dizer ainda proporção, ordem e simetria. A complexidade para quem avalia um canário Gloster é uma arte, um jogo de combinar peças: cabeça e pescoço; pernas e patas; topete e ponto central e pescoço; presença de cílios ou sobrancelhas; tamanho e cauda; forma e plumagem (penas curtas, médias e longas), postura, movimentos e condições de saúde. Aprender a olhar e a ver é um exercício que exige um longo tempo. PARA APRENDER A VER Os olhos obedecem à ação da mente. Assim, o primeiro passo que um criador deve dar para a escolha de um Gloster ideal é a abstração. Aprender a ver é um exercício que exige o desenvolvimento do gosto, da sensibilidade e do intelecto. O gosto (lat. gustus: sabor), em um sentido genérico é o instrumento e o árbitro do discernimento estético. Aprender a julgar com critério e sensatez um canário Gloster é ter desenvolvido na alma o sentimento do belo e da harmonia que existe entre as partes formadoras desse canário; A sensibilidade (lat. vulgar sensibilitas), em um sentido genérico, é a capacidade que o criador tem de sentir, de ser afetado pela beleza e a harmonia da forma do canário. De receber todos esses estímulos através dos sentidos, principalmente da visão; A inteligência (do lat. vulgar intelligentia) em um sentido genérico se aproxima de intelecto, entendimento e razão. É a individualidade de cada criador. O intelecto dá autonomia ao criador. Entendimento é a faculdade que um criador adquire de compreender ou pensar por idéias gerais ou conceitos. A razão é a capacidade de julgar que caracteriza o ser humano, de distinguir o verdadeiro do falso. Se a primeira fonte que temos ao olhar um canário Gloster é a sensibilidade, a segunda é o entendimento, poder de julgar, poder de conhecer o não sensível. Por isso, desenvolver a inteligência de um criador para o canário Gloster envolve sentimento, percepção, memória, raciocínio, seleção de dados, previsão, analogia, simbolização e autonomia. Criar canário é um jogo. Para se divertir e estar feliz com esse jogo, é preciso aprender as regras e entender a intenção do jogo. Com o passar do tempo aprendi a brincar de criar canário Gloster. Confesso que os melhores professores que tenho tido ultimamente são a paciência e o tempo para aprender. Por último, aprendi a não atribuir aos outros criadores os erros provocados pela minha ignorância. Esperteza é um mito e uma lenda que pertence à velha e esfarrapada tradição cultural dos antigos criadores de canários brasileiros. Canário de boa qualidade para a reprodução é privilégio de quem sabe ver. |
A INTERNET AJUDANDO NA CRIAÇÃO DE CANÁRIOS
A internet sem sombra de dúvidas, foi uma das maiores ferramentas inventadas pelo homem, quando é bem utilizada. Abaixo vou relatar uma troca de informações com o amigo Jair, se observarem bem, verão que o diálogo vai desde o namoro dos canários até a limpeza dos ninhos, só faltou mesmo colocar as anilhas, com isso acho que sou padrinho destes filhotes. Jair C. Santos: Boa noite me ajude outra vez, meu casal de gloster já namoram, já construirão o ninho alias muito bonito, mas nada de copularem já o vi tentando, umas vezes, mas ela fugiu só ficam trocando comida, ficam sempre juntos, mas nada é normal? A criadeira é aquela de três divisórias é boa porque eles vão para lá e pra cá é normal? FranciscoPeruzzo: ver o canário galando a fêmea é sempre complicado, pois não ficamos o dia todo olhando. Você pode marcar uns 15 dias se não botar, retire o ninho deixe uns dias sem nada e depois coloque novamente para ver se ela se decide. Esse período inicial é ruim mesmo, mas paciência que dá certo. Jair C. Santos: Ontem falei do ninho hoje quando fui cuidar do casal mais da metade do ninho estava no chão da criadeira, com sua experiência o que devo fazer, deixar os dois juntos ou por a divisão de novo. FranciscoPeruzzo: Já estão juntos a mais de um mês? Se estiverem, retire o ninho e deixe uns dois dias sem nada, depois volte o ninho e forneça material para ela iniciar novamente. Antes de fazer tudo isso, de uma assoprada na barriga da fêmea, se tiver bem inchada, deixe do jeito que ta, pois não vai demorar a botar. Jair C. Santos: Depois que ela destruiu o ninho troquei a criadeira de lugar, adivinha, fez o ninho e hoje cedo já tive a alegria do primeiro ovo, ele e escuro e isso mesmo? Tirei e coloquei um index sei que é a primeira etapa, mas já é gratificante um abraço e obrigado por me ajudar. FranciscoPeruzzo: Foi como te falei, não tem muita lógica na criação de canários, às vezes uma mudança de lugar da gaiola já resolve. O último ovo costuma ser mais azulado que os outros, aguarde até o final e depois coloque para chocar e vamos torcer que o macho tenha feito o seu papel. Jair C. Santos: Bom dia Peruzzo, estou te enviando esta mensagem com muita alegria ontem nasceram os filhotes, como sou novato estou dando só gema de ovo para os pais, como devo fazer daqui para frente o que devo fornecer a mais durante os outros dias muito obrigado pelas dicas até agora, é rezar para que tudo de certo, pois eu sei que foi só o primeiro passo agora vem à parte mais delicada que é o desenvolvimento dos filhotes. FranciscoPeruzzo: Fico muito contente por você, realmente o nascimento dos pequenos é muito gratificante. Agora vem a parte mais delicada como você mesmo disse, teremos que ver se a mãe está alimentando bem os filhotes. Aqui em casa não costumo fazer muito diferente, continuo na mistura de sementes, você pode colocar um pouco mais de aveia, ajuda a engordar os filhotes e também ajudo com a papinha. Depois de 03 dias pode colocar alguma verdura, eles gostam muito, do resto segue igual. Jair C. Santos: Estou aqui com mais uma duvida vi que é bom trocar o ninho por causa da sujeira, o meu estava sujo tirei algumas jutas que estavam sujas, seria bom trocar o ninho? Já aproveitando vi também que com 20 dias seria bom por mais um ninho, pois a fêmea poderia entrar em novo ciclo, seria isso obrigatório? FranciscoPeruzzo: Geralmente com 10 dias os pais param de limpar o ninho, retirando a sujeira dos filhotes, não sei se já reparou isso, quando são pequenos nunca tem sujeira, a mãe e o pai costumam comer a sujeira ou jogar pra fora. O que eu costumo fazer, quando tem muita juta e os filhotes vão crescendo vou retirando para não ficar apertado e depois que coloco as anilhas, os filhotes com 10 dias de vida mais ou menos troco o ninho todo, retiro o sujo e coloco um novo, aqui em casa as fêmeas não costumam estranhar essa mudança, algumas pessoas acreditam que elas estranham esta mudança, o que você pode fazer é trocar em um dia que está mais tempo em casa e fique observando se vai ocorrer algo de estranho, por exemplo à fêmea ficar muito tempo sem voltar para o ninho, caso isso aconteça, volte o ninho velho, de só umas batidas para tirar o pó que fica no fundo. Agora colocar outro ninho com 20 dias, é difícil afirmar tudo vai depender do desenvolvimento dos filhotes e pressa dos pais, o que mais vale é a observação do casal, quando os filhotes começarem a sair do ninho, fique de olho para ver se a mãe não está tentando montar outro e com isso pode arrancar as penas dos filhotes, aí sim forneça material e ninho e em casos mais drásticos separe os filhotes pela grade que o pai e mãe costumam alimentar. Jair C. Santos: Estou te retornando sobre a troca dos ninhos, troquei os ninhos a tarde, pois de manhã vi que estavam muito sujos, bom para resumir como você mesmo disse aqui nenhum problema às canárias, não estranharam estão nos ninhos claro deram uma olhada mas por fim tudo normal acho que nem elas gostam de sujeira abraços. FRANCISCO PERUZZO BIÓLOGO CENTRO PAULISTA DE CRIADORES DE CANÁRIOS FRISADOS – CF SÓCIO Nº 104 |